Por André Freitas e Filipe Xavier
Doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha, o norte-americano William Lane Craig é daqueles sujeitos cujo currículo intimida e faz os mais novos o elevarem a um pedestal de admiração, pensando que o "cabeça" deve viver dedicado à vanguarda da ciência e aos temas complexos da existência. Acontece que o Dr. Craig é, sim, um renomado professor de filosofia e um intelectual de gabarito, mas que resolveu dedicar toda a sua retórica à defesa de um "outro mestre", que andara de sandálias pelas terras da Palestina há uns dois mil e poucos anos. Não que Jesus Cristo precise de advogados, mas William Craig entende que o soberano Deus usa também apresentações racionais e mais sofisticadas para revelar-se ao mundo. Palestrante principal do oitavo Congresso de Teologia Edições Vida Nova, Dr. Craig, na sua primeira fala, acabou fazendo um bom resumo do início do seu livro "Em Guarda". Abaixo os melhores momentos, e que podem levá-lo a pensar sobre como apresentar a esperança que há em ti com eficiência (1 Pedro 3:15):
Quem precisa de apologética?
Todo cristão, pois a apologética cristã (a defesa racional da fé cristã) pode ser de grande utilidade, ainda que ela não seja indispensável para algum fim.
Pra que ela serve?
Ramo da teologia que procura oferecer um respaldo racional para as perguntas de cada tempo. Os argumentos da apologética, no entanto, não são, repito, indispensáveis para respaldar a crença cristã. As escrituras parecem nos ensinar que a crença cristã é respaldada pelo testemunho do Espírito Santo (uma certeza que se recebe após a conversão), sem necessariamente receber argumentos racionais. Mas, não podemos achar que ela - a apologética bem feita - é inútil.
Com a apologética temos, portanto, um duplo aval para suas crenças cristãs: o testemunho do Espírito e os argumentos racionais. Ter argumentos sólidos para a existência de um Criador, de um arquiteto do universo, pode aumentar a garantia para as alegações de verdade do cristianismo. Em tempos de sequidão espiritual - quando parece que o testemunho do Espirito está ausente - ela pode dar apoio intelectual e firmeza às crenças cristãs.
Ainda que a apologética não seja necessária para respaldar a crença cristã, ela é fundamental para alguns fins:
- Moldar a cultura - apologética pode ser fundamental para que o Evangelho seja ouvido na sociedade ocidental (pós-cristã) de hoje. O fermento do Iluminismo (a ideia de que o conhecimento é alcançado apenas pela razão) já está muito difundido. Ainda que a maioria dos iluministas fossem teístas, a teologia não é considerada uma fonte de conhecimento genuína ou válida. Religião e ciência passaram a estar em profunda contradição. Quem segue radicalmente a busca do conhecimento apenas pela razão acaba tornando-se ateu ou agnóstico. O Evangelho nunca é ouvido isoladamente, mas sempre pelo contexto cultural no qual vivemos. A pessoa que cresce num contexto cultural em que o cristianismo é uma opção intelectualmente viável estará mais aberta à verdade cristã. Para o sujeito num ambiente secularizado, crer em fadas é uma opção tão viável quanto crer em Cristo. Quando palestrei numa universidade no Porto (Portugal) era tão difícil os alunos acreditarem na existência de um intelectual cristão - com dois doutorados em universidades europeias - já que nunca tinham sequer visto um filósofo cristão (isso pra eles não existia), que acharam que eu era um impostor. Chegaram a ligar para universidade em que eu era pesquisador na Bélgica para confirmar a informação. Os cristãos que desprezam a apologética e argumentam que ninguém vem a Cristo por argumentos racionais têm uma visão fechada demais do cristianismo. O cristianismo bíblico se recolheu ao isolamento do esconderijo intelectual, deixando a mensagem para a cultura de que o cristianismo é uma fantasia inofensiva. Temos condições de reformular nossa cultura, levando a de novo pensarem no Evangelho como uma opção que faz sentido para pessoas pensantes.
- Fortalecer os crentes - as emoções só podem nos levar até certo ponto do crescimento. Depois, precisaremos de algo mais substancial. A apologética vai fornecer essa substância racional. Viajo dando palestras e nas igrejas ouço coisas do tipo: "Nosso(a) filho(a) tinha questões que ninguém na igreja podia responder e ele(a) foi se afastando do Evangelho. Ah, se o senhor tivesse vindo aqui antes... Ele(a) não teria se desviado" Muitos são impedidos de apostatar quando têm suas questões respondidas. Deus tem utilizado apologética para impedir pessoas de desviar do Evangelho. No ensino médio ou na universidade os adolescentes e jovens são imersos num universo em que valores da cultura cristã são violentamente atacados. Se os pais não estiverem profundamente engajados com a apologética, com o preparo para responder seus filhos nas suas questões, poderemos continuar perdendo nossa juventude. Debates racionais, com respostas convincentes e intelectuais, encorajam, fazem os jovens saírem orgulhosos - de cabeça erguida por serem cristãos. Muitos jovens não compartilham sua fé por medo. Escolhem permanecer em silêncio, por não saberem o que responder diante de seus colegas; escondendo assim a sua luz debaixo do alqueire, em desobediência ao mandamento de Cristo. Uma boa formação apologética é um dos segredos do evangelismo destemido.
- Evangelizar os descrentes - "Ninguém vem a Cristo por argumentos racionais", é o que muitos dizem por aí. Essa atitude negativa com relação à apologética não corresponde com a visão bíblica. Quando lemos Atos é evidente que a atitude padrão era argumentar racionalmente sobre a veracidade da visão cristã, tanto para judeus quanto gentios. Os apóstolos recorriam ao cumprimento das profecias, aos milagres de Jesus e, sobretudo, à ressurreição para comprovar que Ele era o messias. Quando encontravam gentios que se recusavam a crer, recorriam às obras das mãos de Deus na natureza e, depois, às testemunhas oculares para provar que Deus se revelou. . Esses, costumam ter enorme influência em seus nichos culturais. C.S. Lewis foi uma dessas pessoas e vejamos o impacto de sua conversão até hoje. A defesa da fé, a defesa de Cristo, por meio de argumentos apologéticos, não tem sido ineficaz no evangelismo. Quando apologética cristã é firmemente apresentada, combinada com apresentação do Evangelho e um testemunho pessoal, será usada pelo Espirito Santo para trazer alguns para Si. Creio ser - a apologética - uma parte vital do "currículo teológico do discipulado".


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